Em artigo, presidente do CREMERJ fala sobre Mais Médicos
15/05/2014
O jornal O Globo publicou nessa quarta, 14, o artigo “Medicina eleitoral”, assinado pelo presidente do CREMERJ, Sidnei Ferreira. O texto fala que o programa Mais Médicos, ao contrário do que proposto inicialmente, está substituindo os profissionais brasileiros pelos estrangeiros, a fim de diminuir os investimentos na saúde e servir de propaganda eleitoral.
Confira abaixo o artigo na íntegra:
Médicos estrangeiros não foram avaliados e não se sabe se têm ou não capacidade
O
Programa Mais Médicos, segundo a lei que o rege, define os médicos
estrangeiros como intercambistas, o governo lhes paga como bolsistas e a
mídia os trata como assistencialistas. A presidente Dilma também. Às
vésperas do 1º de Maio, motivada por 43% de rejeição, ela afirmou: “Os
médicos cubanos do programa são melhores do que os brasileiros, no
sentido de serem mais atenciosos. Os prefeitos só querem que a gente
mande médicos cubanos para as cidades.”
Ocultando a verdade e
distorcendo os fatos, a presidente tenta, desesperadamente, contabilizar
os últimos dividendos do investimento eleitoral.
Na verdade,
médicos brasileiros estão sendo substituídos por médicos estrangeiros
pelos prefeitos pelo abjeto motivo de diminuir ainda mais os
investimentos na saúde e fazer propaganda eleitoral, enganando a boa
vontade e a crença do povo. O cidadão pode ser enganado por confiar, por
não resistir à propaganda de bilhões de reais, mas não é bobo. As
denúncias se multiplicam e pode ser que as despesas tenham sido em vão.
No
seu contumaz autoritarismo, o governo, esquecendo a responsabilidade
conferida pelo voto, não usou o Revalida e tirou dos conselhos regionais
o dever de registrar os médicos do programa. Sabia que os conselhos não
registrariam médicos estrangeiros que não fossem submetidos ao exame,
inaptos a atuarem no nosso país. Restou o direito e dever de fiscalizar.
As
autoridades gestoras não nos enviaram nada mais do que uma lista com
nomes e municípios. Nada de nomes ou endereços das unidades de saúde que
os receberam, muito menos seus supervisores e preceptores. Nada de
cumprir a lei. Às nossas solicitações, nenhuma resposta digna.
Continuando a busca, o Cremerj encontrou algumas unidades de saúde com
médicos estrangeiros fazendo assistência, atuando sem supervisão ou
preceptoria, sozinhos, com a função dada pelo governo federal, e apoiada
por prefeitos e governadores, de cuidar do bem maior do cidadão
brasileiro: a sua saúde. Não foram avaliados e não se sabe se têm ou não
capacidade para tal.
Todos sabem que o Rio de Janeiro e outros
locais não são regiões longínquas e não carecem de médicos. Estão
cientes de que a origem do mal é a gestão. Não faltam médicos, mas
faltam aos médicos concursos públicos, salário compatível com seus
conhecimentos e responsabilidades, condições dignas de trabalho. Carece o
governo de sensibilidade democrática.
O Tribunal de Contas da
União está de olho; os médicos, indignados; e a população, atenta. A
negação do diálogo com as entidades médicas, o desrespeito e a soberba
do governo transformam a decepção no desejo de lutar em defesa da
profissão, da medicina de qualidade que praticamos e do atendimento
digno que a população merece. Ou trilhamos todos, médicos e governo, o
caminho do debate democrático para as soluções necessárias ou a medicina
nacional e a saúde da população amargarão perdas irreparáveis. É tempo
de governar com responsabilidade.
Sidnei Ferreira é presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj)