Pacientes com leucemia ficam sem assistência no Rio
22/06/2017
Hematologistas dos principais hospitais públicos que tratam leucemia aguda no Estado estiveram nessa quarta-feira, 21, no CREMERJ para denunciar os problemas que vem impedindo o atendimento e tratamento a esses pacientes. Os médicos foram recebidos pela Comissão de Saúde Pública do CRM e por representantes da Defensoria Pública do Estado.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Hemorio, o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) e o Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) são as referências para os casos de leucemias agudas no Rio de Janeiro. Juntas, essas unidades recebem a todos os pacientes da rede pública que necessitam desse tratamento. No entanto, segundo relato dos médicos, muitos doentes não estão sendo assistidos devido à deficiência da rede.
Faltam quimioterápicos, leitos, medicamentos básicos, há falhas na regulação e déficit de recursos humanos. No Inca, muitos tratamentos estão prejudicados por conta da falta de leitos de internação, o que a impacta o início da terapia. Atualmente, a unidade possui apenas 12 leitos para a hematologia e funciona sempre com lotação superior a capacidade.
No Hemorio, principal referência do Estado para o tratamento de leucemia, a situação é ainda mais grave. Além da redução de leitos, a unidade sofre com o constante desabastecimento de quimioterápicos e medicamentos básicos, como antibióticos. O hospital não conta com manutenção eficaz, o que leva ao não funcionamento de equipamentos para a realização de exames fundamentais. Recentemente o hospital precisou restringir o atendimento ambulatorial por não ter como atender a todos os doentes.
No Hospital de Bonsucesso, a redução de médicos no serviço de hematologia agravou ainda mais o andamento do atendimento, que tem sido reduzido gradativamente. Também faltam leitos, equipamentos de exame estão quebrados e não há quimioterápicos básicos.
Já no Hupe, o atraso no pagamento dos salários dos servidores tem impactado diretamente no funcionamento da hematologia e demais serviços da unidade. Diversos setores têm restringido o atendimento devido à falta de recursos humanos para atender os doentes. Um exemplo do impacto negativo na unidade é a redução no número de transplantes de medula óssea, indicado para alguns casos de leucemia. Somente duas cirurgias foram realizadas este ano, quando o normal seriam duas por mês.
O coordenador clínico do Hupe, Paulo Roberto Benchimol, alertou que no Brasil a expectativa é de 80 mil casos de leucemia e linfoma por ano. No Rio de Janeiro, a probabilidade é de 3.600 novos doentes anualmente, o que representa 300 casos por mês. “Isso significa que precisamos ter leitos para atender todos esses doentes. Mas como vamos fazer para dar assistência a essas pessoas diante desse cenário caótico de toda a rede? É algo assustador. Metade dessas pessoas vai morrer sem ter acesso, sequer, ao início do tratamento”, desabafou.
O diretor do CREMERJ Gil Simões chamou atenção para o fato de que os problemas relatados confirmam os dados do levantamento da Comissão de Fiscalização (Cofis) do Conselho, que apontou falhas na assistência oncológica do Estado. Ele ainda acrescentou que o CREMERJ vai reunir todas as demandas e elaborar ações que visem amenizar os problemas.
“Se é de conhecimento dos governos o número de pessoas que ficarão doentes e a quantidades de leitos e medicamentos necessários para atendê-las e, mesmo assim, nada é feito, então os gestores precisam ser responsabilizados pela morte dessas pessoas”, disse Gil Simões.
A defensora pública do Estado Thaísa Guerreiro relatou que a Defensoria tem promovido diversas ações para amenizar a crise nas unidades estaduais e municipais, mas que medidas mais enérgicas terão que ser tomadas. Ela ainda sugeriu que os pacientes prejudicados sejam orientados a buscar a defensoria pública.
“A crise que hoje o Rio de Janeiro atravessa tem comprometido até o andamento do Judiciário. Ganhamos as ações, mas elas não são cumpridas. Mas não vamos desistir de tentar garantir o direito da população de acesso à Saúde. Vamos levar todos os problemas relatados para estudar como a defensoria pode ajudar”, adiantou Thaísa.
Uma reunião deve ser realizada em breve para debater ações e atualizar a situação das unidades.
Também participaram da reunião o presidente do CREMERJ, Nelson Nahon; o vice-presidente do CRM, Renato Graça; e a defensora pública Samantha Monteiro.