Na Mídia - RJ perde 16 mil leitos hospitalares em nove anos e lidera queda no Brasil, diz Conselho Federal de Medicina
G1 /
12/08/2020
Um levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina apontou que o Rio de Janeiro é o estado que mais perdeu leitos hospitalares em todo o país nos últimos nove anos - ao todo, 16 mil vagas deixaram de existir.
São espaços que fizeram falta para Celso Miranda. Ele esperava há três dias para conseguir uma transferência para a mãe, Margarida Miranda, de 79 anos, internada no Centro Especializado de Tratamento de Hipertensão e Diabetes de Queimados, na Baixada Fluminense.
"Ela passou mal no dia 29 e foi levada às pressas para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Queimados. Ela ficou 24 horas lá. No dia seguinte, fizeram um exame de imagem e tomografia, e foi constatado que ela estava com o coronavírus. Estou desde domingo lutando para transferir minha mãe e não consigo. Ela já está regulada pelo Sistema de Regulação (Sisreg). Eu não entendo, porque dizem que há oferta de vagas", reclamou Celso.
A angústia dele terminou na noite de terça-feira (11) - Dona Margarida conseguiu a transferência.
A luta da família da idosa poderia ser um retrato do levantamento do Conselho Federal de Medicina. Em janeiro de 2011, o Rio tinha 48 mil leitos em unidades públicas e particulares. No mesmo mês de 2020, eram 32 mil. Uma redução de 34%.
Socorro no Judiciário
Na busca por vagas, muitos pacientes recorrem ao Judiciário. O Tribunal de Justiça do Rio informou que, apenas entre janeiro e julho deste ano, 835 pessoas deram entrada no plantão em busca de um leito. Desse total, 345 precisavam de uma vaga em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
No Município do Rio, a situação é ainda pior. O Conselho Federal de Medicina informou que, em janeiro de 2011, o Rio tinha 23.164 leitos de internação. No mesmo mês de 2020, caiu pra 13.583 - uma redução de 41%.
Analisando apenas a rede do Sistema Único de Saúde, eram 12.866 leitos em janeiro de 2011. Agora, são 8.411- queda de 35%.
O levantamento também mostrou que, por conta da pandemia do novo coronavírus, o Rio teve uma alta no número de leitos pela primeira vez em nove anos.
No entanto, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) alerta que boa parte delas é temporária, já que os hospitais de campanha reduziram as atividades, e alguns nem chegaram a ser inaugurados.
"Esse estudo procurou criar um ranking de leitos em estados e municípios. Para nossa surpresa, o Rio de Janeiro foi o que mais perdeu leitos entre 2011 e 2019. A falta de leitos para as doenças crônicas, as doenças oncológicas, já existia. Com o advento da pandemia, muitos leitos foram realocados para o tratamento da Covid-19. O fechamento dos leitos dos hospitais de campanha nos leva a uma situação anterior à pandemia", descreveu o presidente do Cremerj, Walter Palis.
Segundo ele, o ideal seria que, ao se criar um hospital de campanha ou se implantar qualquer outra unidade, houvesse um planejamento para que isso ficasse de legado.
"Todos nós da área da saúde esperamos por isso. As autoridades têm fechado sistematicamente unidades e leitos, mas isso vai contra. O número de leitos que precisaremos para enfrentar o número de casos que ficou represado em função da Covid-19 - casos de câncer, de cirurgias cardíacas - é muito grande. A fila hoje é de pacientes que não possuem Covid-19 para entrarem na UTI".
O que dizem as autoridades
A Secretaria Municipal de Saúde negou que os Hospitais Souza Aguiar e Getúlio Vargas tenha fechado vagas, prejudicando o atendimento.
Esclareceu, também, que a redução mostrada no levantamento aconteceu por causa de uma reforma psiquiátrica que deu alta a pacientes da saúde mental.
Segundo a secretaria, com a flexibilização da quarentena, o Souza Aguiar registrou aumento de pacientes, inclusive de outros municípios, por causa da proximidade com a Central do Brasil.
Já a Secretaria Estadual de Saúde disse que parte dos equipamentos e insumos que estão sendo desmobilizados nos hospitais de campanha serão distribuídos aos municípios.
A secretaria também afirmou que vai oferecer apoio administrativo aos municípios para que possam resolver seus problemas de prestação de contas e receber os repasses de verbas a que têm direito.